Violência Contra Profissionais do Sexo: Como se Proteger e Onde Buscar Ajuda

Por Equipe de Relacionamentos 18/08/2025 Direitos e Cidadania
Violência Contra Profissionais do Sexo: Como se Proteger e Onde Buscar Ajuda

A profissão do sexo, embora legalizada em muitos países e protegida por princípios básicos de dignidade humana, ainda é envolta por estigmas, preconceitos e uma série de vulnerabilidades que tornam seus profissionais alvos recorrentes de diversos tipos de violência. Para além do julgamento moral, há uma realidade concreta e muitas vezes silenciosa de agressões físicas, abusos psicológicos e negligência institucional, que precisa ser debatida com seriedade, empatia e responsabilidade.


A violência física é talvez a forma mais evidente, e infelizmente, também a mais comum. Muitas acompanhantes e profissionais do sexo enfrentam situações extremas durante atendimentos, em deslocamentos ou mesmo em suas residências. A ausência de regulamentação específica e de garantias legais claras amplia a exposição ao risco, especialmente quando não há uma rede de apoio confiável por perto. Casos de espancamentos, estupros, cárcere privado ou mesmo assassinatos se acumulam nas estatísticas que muitas vezes sequer conseguem representar a totalidade dos casos, já que boa parte dos episódios sequer é denunciada.


Mas a violência não se limita ao corpo. Ela também adoece a mente. A violência psicológica, menos visível, porém tão devastadora quanto, assume formas sutis e constantes. Desde humilhações e xingamentos até manipulações emocionais, chantagens e ameaças, muitos clientes ou até parceiros afetivos impõem um desgaste silencioso e contínuo à saúde emocional dessas mulheres. A sensação de invalidação, vergonha ou medo de retaliação muitas vezes as impede de buscar ajuda ou até de compartilhar o que vivem.


Há ainda a violência institucional, que talvez seja a mais perversa por sua sutileza sistemática. Trata-se do descaso por parte das autoridades, do preconceito no atendimento médico, do despreparo das forças policiais ou do julgamento em repartições públicas. Quando uma profissional do sexo tenta registrar uma ocorrência e é desacreditada, ou quando precisa de um atendimento de saúde e recebe olhares enviesados, isso não é apenas falta de preparo: é mais uma camada de violência que reforça o ciclo de invisibilidade e impunidade.

Diante dessa realidade, é fundamental que as profissionais estejam atentas a estratégias de autoproteção e busquem fortalecer suas redes. Uma das primeiras recomendações é sempre informar alguém de confiança sobre os encontros marcados: horário, local, nome e até foto do cliente, quando possível. Utilizar aplicativos de localização em tempo real pode ser uma medida simples, mas poderosa. Em atendimentos fora do local habitual, verificar previamente a segurança do ambiente e estabelecer códigos de segurança com amigas ou colegas pode salvar vidas.


Além disso, há tecnologias hoje que auxiliam na proteção pessoal, como botões de pânico em aplicativos discretos ou alarmes sonoros acionáveis por gesto. Ter à mão telefones úteis e saber onde buscar socorro imediato também é parte do preparo necessário. Em casos de violência, é fundamental registrar boletim de ocorrência e, se possível, buscar auxílio jurídico.

Felizmente, existem organizações e canais que atuam diretamente no apoio às trabalhadoras do sexo. O Projeto Vida, por exemplo, oferece apoio psicológico e jurídico gratuito para profissionais em situação de vulnerabilidade. A Rede Brasileira de Prostitutas (RBP) é uma iniciativa nacional que promove ações de conscientização e suporte em diversas cidades. Há ainda o Grupo Davida, no Rio de Janeiro, que há décadas luta pelos direitos das prostitutas, oferecendo acolhimento e orientação.


Nos canais oficiais, o Disque 180 (Central de Atendimento à Mulher) é uma ferramenta nacional gratuita e sigilosa, que funciona 24 horas e pode orientar sobre medidas legais, abrigos e assistência. O Disque 100 também recebe denúncias de violações de direitos humanos, inclusive contra profissionais do sexo.


É importante frisar: nenhuma forma de violência é justificável. Nenhum julgamento social pode servir de escudo para a agressão. Toda mulher, independentemente de sua profissão, tem direito à segurança, à dignidade e ao respeito. Profissionais do sexo não são menos dignas de empatia, de escuta ou de justiça.


Falar sobre violência nesse contexto é também uma forma de combatê-la. É um chamado à conscientização da sociedade, mas também uma convocação à resistência e ao cuidado mútuo. Fortalecer a rede de apoio entre profissionais, compartilhar experiências e exigir respeito são passos essenciais para que o medo não seja mais o pano de fundo de uma profissão que, como qualquer outra, deveria ser exercida com liberdade e segurança.


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